( ou viagem no tempo pelo Buraco de Minhoca)
Não sei porque mas me esqueci disso por muitos anos mas aí pela década de 70 isso me voltou à idéia e todo Natal me lembro disso...
Naquele tempo criança trabalhava, não era trabalho pesado, claro; pais educavam seu filhos à sua maneira, às vezes com palmadas ou cintadas. Mas não aleijavam e, via de regra, os filhos não cresciam rebeldes precisando ser monitorados por essas leis de proteção à criança e ao adolescente .
A festa do Natal bem como passagem de ano e dia de Reis eram esperadas com espectativa e ao som de muita musica ao vivo, produzidas pelos amigos e vizinhos e todas as casas tinham seu presépio ornados com Barba de Pau e papel pintado compondo o cenário de um pedaço de Belem.
A Folia de Reis ia pela madrugada a dentro, cada dia numa casa diferente. A nós, crianças, não era permitido estar na sala durante a folia. No quarto, deitados em esteiras, com parentes a amiguinhos, ficávamos de ouvido atento para ouvir o que tinha de misterioso naquela dança.
Dormíamos ao som da batida dos tambores e dos pés e quando acordávamos de manhã, levantávamos para participar do café, sem ter entendido a Folia e nem por isso frustrado com a espectativa não atendida.
Como disse, esperávamos o Natal com muita espectativa e mesmo com família de poucos recursos ansiávamos por algum presentinho pois já éramos um pouco massificado com essa idéia comercial. Os pais se esforçavam e presenteavam com alguma coisa que simbolizasse “Presente de Natal”, normalmente roupas ou alguma coisa de utilidade.
Víamos os brinquedos de alguns vizinhos de mais posse e admirávamos carrinhos, bonecas, revolveres (naquela época podia). Invejavamos mas tínhamos consciência, sem dramas, de que aquilo era financeiramente impossível para nós. Pra sorte de nossos pais não existia shoppings nos rincões do nosso Chão Caipira.
Papai Noel? Era o velhinho de algumas histórias do qual não sabíamos nem pra que servia. Nossos pais, cristãos fervorosos, nunca nos iludiram com a história de que existia um velhinho barbudo que se vestia de vermelho e saia por aí voando num trenó, distribuindo presentes nas noites de Natal, aos meninos bonzinhos. Mas nos ensinavam a sermos bons... O tal velhinho viemos conhecê-lo no início da década de 60, quando emigramos para a cidade. Aí já era tarde: o tal de Papai Noel continuou a ser só história para nós.
Mas lá pelos meados da década de 1950, tinha seis ou sete anos, meu irmão um ano e meio a menos, a surpresa: Meu pai conseguiu uma folguinha financeira e, no início de dezembro, nos presenteou com um jipinho verdinho pra cada um, de plástico, com cerca de 7 cm de comprimento. Sei que cabia no bolso da minha calça curta.
A felicidade era tanta que aquilo grudou dentro do bolso; pra onde íamos o jipinho ia junto. E nós tínhamos o compromisso de buscar meia dúzia de cabeça de gado no pasto pro meu pai e minha mãe tirarem o leite..
E não deu outra. Corre pra lá, corre pra cá, pra cercar as vacas, de um pulo lá se foi o jipinho para o meio do pasto. Não tinha duas semanas que tínhamos ganho aquele precioso presente. Jeep verde, pasto verde de capim gordura (ainda tinha naquela época). Tá lá até hoje e como plástico demora para se decompor, algum arqueólogo ainda poderá achá-lo daqui há algumas décadas...
Naquele momento foi uma busca infrutífera e o choro triste por ter perdido o primeiro brinquedo comprado num Bazar da cidade.
Ah! Sim. E o meu irmão tomara brincar escondido com o dele só observando as minhas lamúrias.